O antigo guia turístico "obcecado" por desporto

"Arquiteto nato", com jeito para línguas e viciado em equitação, é assim Diogo Infante. Na semana em que o ator foi notícia pelo seu casamento, a <strong>NTV </strong>conta a sua história.
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Chorou na primeira vez que pisou o palco com "casa cheia". Diz que foi uma descarga de adrenalina logo a seguir às palmas que ecoavam no Teatro Lethes, em Faro, onde viveu em jovem. E para nunca mais deixar de as ouvir, o lisboeta, de 17 anos, filho de mãe portuguesa e de pai inglês (que não assumiu a paternidade), fez-se à estrada e rumou ao centro do país. Deixou o trabalho de guia turístico no Algarve e o grupo amador de teatro e regressou à terra natal para voltar a subir ao palco.

Passaram 25 anos desde que prestou provas para o acesso à Escola Superior de Teatro e Cinema de Lisboa. "Fizemos provas no mesmo grupo e percebemos logo ali que era o início de uma grande amizade", conta o encenador e amigo Miguel Seabra, que estudou com o ator, revelando: "Ele sempre foi o aluno com notas mais altas da turma." João Mota, que presidiu a Escola Superior de Teatro e Cinema e assistiu à prova de Diogo Infante, acrescenta: "Já na altura achei que ele tinha qualquer coisa escondida lá dentro que não revelou naqueles anos. E mais tarde percebi, quando veio a público a situação do pai."

"O Diogo é filho de um senhor inglês que não assumiu o namoro", diria a mãe do ator, em 2007, durante a apresentação de um documentário que assinalava as duas décadas de carreira de Diogo Infante, revelando que o filho apenas tinha conhecido o pai aos 34 anos. "Sim, conheci o meu pai há cerca de seis anos. Hoje é um amigo. Eu vou lá [a Inglaterra], ele vem cá, conheço a minha família toda...", acrescentaria o ator. E estava desvendada aquela "coisa escondida". "Era algo que ele antes não revelava mas que o magoava. Ele trabalhava muito com esse lado ligado à psicologia e às emoções... é um lado interessante para um ator", frisa João Mota.

Do teatro à televisão foi um passo. Depois de se estrear com Marcantonio del Carlo no Teatro Experimental de Cascais, com a peça A Morte de Danton - em que apanhou um "grande susto", começando a ter "reações que não eram as suas" devido à personagem -, não esperou muito até saltar para o pequeno ecrã. Logo a seguir a Por Mares nunca Dantes Navegados ganha o reconhecimento do público em A Banqueira do Povo, da RTP1, onde contracenava com grandes nomes como Alexandra Lencastre, Eunice Muñoz e Sofia Alves. No cinema soma obras como As Nuvens, Pesadelo Cor-de-Rosa e A Sombra dos Abutres, enquanto na TV marcou o público com Joia de África, TVI, onde contracenava com Sofia Alves. E nos últimos dois anos regressou com Depois do Adeus, RTP1, e Mundo ao Contrário, TVI.

Ao longo da sua carreira já dirigiu dois teatros - primeiro o Teatro Maria Matos, de onde se demitiu por falta de verbas para a concluir os seus projetos, e depois o D. Maria II, após anunciar a suspensão da programação para 2012 devido às medidas de austeridade do governo -, representou em dezenas e dezenas de peças, trabalhou com reconhecidos realizadores em cinema, vestiu a pele de várias personagens na TV e foi apresentador de programas. Em matéria de prémios, venceu dois Globos de Ouro, em 1996 e 1998, na categoria Melhor Ator de Cinema e, em 1999, recebeu o prémio de Melhor Ator de Cinema no Festival de Gramado. Mas nunca cansou o público, diz o amigo João Mota. "Tem gerido muito bem a sua carreira, só está de vez em quando na TV e deixa saudades. Ele sabe gerir os seus passos e sabe quando voltar ao teatro. Qualquer bom ator de teatro pode fazer televisão e cinema", diz o encenador.

Virgílio Castelo, que conheceu Diogo Infante quando este apresentava o Pátio da Fama (1994), na RTP1, diz que o ator tem algo "especial". "Há pessoas que são tão especiais e tão boas, que não levam dez anos a fazer-se atores. Quando o conheci, percebi logo que ele pertencia à tribo dos grandes atores e que ia ter um percurso especial nesta profissão", diz. O ator Marcantonio del Carlo, seu antigo colega de Conservatório, acrescenta: "É um dos atores mais multifacetados que temos no meio neste momento."

A paixão deste "arquiteto nato" por cavalos

Perfecionista, tímido, profissional, cavalheiro, com ar de galã, disciplinado, seguro de si mesmo, exigente, curioso, divertido, com um humor irónico bem afiado, observador e impaciente, é como o descrevem os amigos e colegas de profissão. As horas longe do teatro, televisão e cinema são preenchidas com viagens, junto da família, em jantares com amigos ou a explorar a equitação. Dono de um cavalo, Samurai, o ator monta quase diariamente, algo que descreve como um momento de libertação e disciplina.

Entre os amigos, é ideal para consultas imobiliárias, diz Catarina Furtado, que conheceu Diogo Infante no início dos anos 90 e se refere ao ator como o seu "irmão mais velho adotado", "É um arquiteto nato. Já projetou muita coisa dos amigos e é o melhor conselheiro para encontrar casa, arrancar e destruir paredes. E ainda tem jeito para decorador, conta a apresentadora da RTP1, revelando que o amigo é "obcecado por desporto". "Espero que ele não me leve a mal, mas acho que é um bocadinho de mais", diz Catarina Furtado, divertida, e adianta: "Ele faz ginástica, é muito ativo e ainda joga ténis." Marcantonio del Carlo, amigo de Diogo Infante, é a sua companhia para o desporto das raquetes. "Jogámos ténis durante muitos anos juntos e continuamos a jogar", conta o ator.

Com talento para a comunicação, o ator "é surpreendentemente bom em todas as línguas, mesmo que não as tenha estudado", afirma Catarina Furtado. "Tem uma capacidade inata de aprender línguas. Se começar amanhã a aprender chinês, no final do mês está a falar chinês", atira a apresentadora, apoiada por Miguel Seabra, que acrescenta: "Ele é bilingue, fala inglês e português e tem muito talento para línguas. Procura sempre ultrapassar-se."

Muito ligado aos amigos e à família, anunciou que havia adotado Filipe, em 2012, agora com 10 anos. "Achei maravilhoso ele adotar uma criança, há tanta gente com tempo livre que não adota. Ele tem tão pouco tempo e conseguiu". Reservado, o ator casou-se, na semana passada, com Rui Calapez, seu agente. "A única coisa que vou dizer é que ele está muito feliz, ambos estão muito felizes e isto faz muito sentido", disse à Notícias TV Catarina Furtado.

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